sábado, 26 de dezembro de 2009

Natal de "Amor e Solidariedade", por Abelardo da Hora

Vai chegando o Natal, e com ele a compulsão e a obrigação de se fazer compras para as pessoas amadas. E foi em um desses meus tours (filantropicamente consumistas) pela Avenida Paulista que me surpreendi ao ver o vão livre do Masp não tão livre assim. Desde o dia 15 de dezembro os transeuntes paulistanos estão sendo presenteados com a exposição itnerante "Amor e Solidariedade", uma retrospectiva das principais obras que marcaram a arte de Abelardo da Hora nestes 60 anos desde sua primeira exposição. O pernambucano, hoje aos 85 anos e ainda exercendo o ofício, mostra um conjunto de obras plurais, o que ressalta seu talento em aventurar-se por diferentes vertentes da arte mantendo sempre em foco o retrato e a realidade do brasileiro. Escultor, pintor, desenhista, gravurista e ceramista, Abelardo retrata desde os cabelos ao vento das tão sinuosas mulheres de bronze até os traços duros, incisivos nos rostos dos meninos de rua que marcam a fase da arte socialmente engajada do artista.

A exposição é de uma beleza inusitadamente simples. A representação do comum, do cotidiano, da realidade é feita com tal vigor e habilidade nos traços que transgride a aparente simplicidade dos assuntos abordados, trazendo à tona suas verdadeiras problemáticas. A sensualidade e o amor são retratados de maneira igualmente surpreendente, um trabalho de uma sensibilidade incomum justamente por tratar do comum: dos beijos, dos abraços, dos enlaces.

Se com todas as palavras que tinha a oferecer, você, caro leitor, ainda não se convenceu ou não obteve completo entendimento do que é a obra de Abelardo da Hora, dou-lhes a sua própria palavra:

"Faço a minha arte respondendo a uma necessidade vital. Como quem ama ou sofre, se alegra ou se revolta, aprova ou denuncia e verbera. Fruto das coisas que a vida ensina...
A marca mais forte do meu trabalho tem sido entretanto o sofrimento e a solidariedade. A tônica é o amor: o amor pela vida, que se manifesta também pela repulsa violenta contra a fome e a miséria, contra todos os tipos de brutalidade, contra a opressão e a exploração.
Recife, 13 de junho de 2003."


Abelardo ao lado de uma de suas obras que compõe a exposição

Idealizada pelo Instituto Abelardo da Hora a exposição já passou por Brasília e Rio de Janeiro, estabelecendo-se em São Paulo até o dia 14 de fevereiro do ano que está por vir. Assim, neste fim de ano, seja entre uma loja e outra, ou antes de admirar as luzes de natal da Avenida Paulista dê uma passada no vão livre do Masp e se deleite com a arte de Abelardo da Hora em "Amor e Solidariedade", de graça, de presente de Natal para todos os paulistanos.


Feliz Natal (atrasado) e um ótimo Ano Novo (adiantado) a todos!!!





sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Mamõyguara opá mamõ pupé

Nacionalismos a parte, todo mundo sabe que o Brasil mesmo sem querer transborda de influências estrangeiras. Seja traduzindo nossa bossa nova para o inglês, seja incorporando o velho e bom rock'n'roll ou até no "Tupy or not Tupy" do Manifesto Antropofágico modernista de Oswald de Andrade que apesar de defender a criação de uma arte característica brasileira presumia para isso a incorporação de aspectos da cultura gringa que fosse interessante a formação da nossa própria.
O 31º Panorama de Arte Brasileira, Mamõyguara opá mamõ pupé, em tupi "Estrangeiros em toda a parte" visa buscar uma mudança de perspectiva de "como o mundo influência a arte brasileira" para "como o Brasil influencia a arte mundial", envolvendo nesta análise cultura, arquitetura, arte e até as polêmicas que ocuparam as capas da revista Caras sobre o relacionamento de Madonna e Jesus Luz (recurso utilizado pelo talentoso e inovador artísta espanhol Juan Pérez Aguirregoikoa). São artistas de toda a parte, desde nossos vizinhos sul-americanos até residentes de terras distantes como Cerith Wyn Evans, que do País de Galles recepciona os visitantes da exposição com uma luminária que pisca em código morse o texto de Lina Bo Bardi, arquiteta que projetou o MASP, sobre sua obra-prima. Fica para Wyn Evans também a autoria do grande mural que, frente ao que parece uma cidade de arranha céus em decadência, adverte sobre o Brasil: "Aqui tudo parece que ainda é construção e já é ruína", provando que a relflexão também é arte. A visão estrangeira do Brasil vem, por vezes, dos próprios brasileiros como é o caso de Tamar Guimarães, mineira que desenvolveu toda sua carreira no exterior e traz nesta exposição uma projeção de slides narrada em moldes de documentário intitulada "A Man Called Love" (Um Homem Chamado Amor) que discorre sobre a influência de Chico Xavier.
A exposição traz um rompimento com o ideal de "Brasil - país tropical", "Brasil- país do samba e das mulatas" mostrando uma nova perspectiva de brasil-urbano, brasil-arquitetura, brasil-concreto. A inovação artística entretanto não é suficiente para acabar com a imagem do Brasil-futebol, paixão que permeia a obra se vários artistas e confirma na obra do argentino Adrián Villar Rojas "Nunca esquecerei Brasil", que no tocante ao futebol, os brasileiros são inigualáveis artistas que deixa Louvres de todo o mundo morrendo de inveja por não poder guardar entre suas paredes a arte e o talento que só batem em corações tupiniquins.

Eu sendo feliz na exposição!
Informações:
Local: Gande Sala MAM - Museu de Arte Moderna - Parque do Ibirapuera
Término: 20/12/09